Cachalote
Paulo Talhadas dos Santos
Biologia
A fotografia é de uma amostra de âmbar-cinzento adquirida, em setembro de 2000, no mercado de Khan el Khalili, Cairo, Egito. Âmbar-cinzento ou âmbar de baleia é uma substância sólida, de cor cinzenta, cinzento-escuro, castanho-escuro ou variegada, produzida no intestino do cachalote (Physeter macrocephalus L.). Trata-se de uma secreção biliar que envolve, a nível do intestino delgado, peças bucais, de lulas e polvos, e, ainda, outros produtos duros, de difícil digestão, capazes de injuriar o intestino, e que facilita a expulsão destes com as fezes. Pedaços de âmbar-cinzento, de diversas dimensões, desde alguns gramas até aos 200 kg, podem ser encontrados a flutuar no mar ou depositados nas praias, maioritariamente nas costas do Oceano Índico. O âmbar-cinzento removido do intestino do cachalote exala aroma fétido, mas após longos períodos – por vezes, várias décadas – de flutuação no mar, submetido à degradação pela luz, ao ar e à água do mar, adquire, gradualmente, odor agradável e exótico. Os pedaços mais antigos, friáveis e com tendência para o esfarelamento, são muito valiosos – cerca de 32 euros por grama –, os mais recentes, menos valiosos, são passíveis de ser moldados com as mãos, pois a sua consistência é similar à do sabão. A densidade do âmbar-cinzento é de cerca de 0,90 g/cm3, pelo que flutua sobre a água. Tem sido utilizado no fabrico de perfumes, como fixador, e na medicina popular como afrodisíaco, sendo ingerido sob a forma de aromatizante de vinhos e chá. O âmbar-cinzento é uma mistura complexa que inclui numerosas substâncias orgânicas, cloreto de sódio, ácido succínico, ácido benzoico, diversos compostos aromáticos e ambreína (C26H43OH) – principal componente –, a qual quando cristalizada é branca (cristais de pequenas dimensões são visíveis na amostra fotografada). A reduzida solubilidade na água, a presença de ácido benzóico e a complexidade estrutural das moléculas que o constituem tornam o âmbar-cinzento muito resistente à decomposição perpetrada pelas bactérias. Contudo, se armazenado no escuro e em ambientes de elevada humidade é suscetível à decomposição efetuada pelos fungos. Com a proibição da caça ao cachalote e com as medidas de proteção que lhe são aplicadas, no âmbito da Convenção CITES, a indústria de perfumaria recorre atualmente a um sucedâneo sintético. Em 2020, foi realizada a sequenciação de moléculas de ADN presentes em amostras de âmbar-cinzento tendo sido, pela primeira vez, confirmado que as mesmas provêm realmente do cachalote, como se suspeitava.
Referências
Macleod, R.; Sinding, S. M.H.; Olsen, M. T.; Collins, M. J. & Rowland, S. J. (2020). DNA preserved in jetsam whale ambergris. Biol. Lett 16: 20190819(acedido a 8 de Janeiro de 2021).
Physeter macrocephalus L.
Escola Básica e Secundária da Cidadela, Cascais
11 de Janeiro de 2021
2021-01-09
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Licença de utilização Creative Commons CC BY-NC-SA 4.0
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